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Estado do Rio investe R$ 12,7 milhões, e equipamentos culturais passam por ‘banho de loja’ para receber o público | Rio

Estado do Rio investe R$ 12,7 milhões, e equipamentos culturais passam por ‘banho de loja’ para receber o público | Rio

A frase é gasta, mas segue eficaz na sua função original de motivar quem habita o nem sempre glamouroso mundo dos espetáculos: o show tem que continuar. A questão é que para que o show continue quase sempre é preciso que haja um palco. E, para que haja palco, é necessário que toda uma estrutura, normalmente escondida dos olhos do público, esteja em condições de funcionar adequadamente. Nem sempre é assim. Palco histórico do Rio — o mais antigo deles, com 210 anos completados em outubro do ano passado —, o Teatro João Caetano fechou as portas em dezembro para que fosse iniciada a primeira grande manutenção em suas instalações elétricas desde a década de 1970.

A iniciativa faz parte do programa Acelera Funarj, do governo do estado, que prevê obras em oito equipamentos culturais e investimento inicial de R$ 12,7 milhões.

Além do João Caetano, passarão por algum tipo de intervenção este ano os teatros Glaucio Gill, em Copacabana; Arthur Azevedo, em Campo Grande; e Armando Gonzaga, em Marechal Hermes. A Sala Cecília Meireles, na Lapa; a Casa da Marquesa de Santos, em São Cristóvão; e os museus do Ingá e Antônio Parreiras, em Niterói, também entraram no pacote.

— O projeto Acelera Funarj não é apenas sobre preservar o patrimônio histórico e artístico, é sobre abrir novas portas para a cultura, sempre olhando para o futuro — diz Jackson Emeric, presidente da Fundação Anita Mantuano de Artes (Funarj), entidade vinculada à Secretaria estadual de Cultura e Economia Criativa.

Por sua grandiosidade — de longe o maior entre os teatros reformados, com 1.139 lugares — e seu valor histórico, o João Caetano é apresentado como a estrela do programa. Inaugurado em 12 de outubro de 1813, com a presença de Dom João VI na plateia, o teatro teve sua história marcada por três incêndios ao longo do século XIX.

Tudo novo no Glaucio Gill

A ideia é que toda a parte elétrica seja substituída e modernizada. O teatro ganhará ainda um novo sistema de climatização. O antigo vinha há tempos funcionando com apenas 20% de sua capacidade. Ao todo, serão investidos R$ 4,6 milhões na casa de espetáculos.

— A gente vinha operando com todo cuidado, e, por isso, muitas vezes nem conseguia atender a algumas modernidades cênicas, justamente para evitar riscos. A partir dessa obra, se abre mais esse leque para a possibilidade de receber mais projetos e espetáculos — aposta Marcos Edom, diretor do teatro.

O projeto para o teatro inclui ainda a instalação, no telhado, de painéis para captação de energia solar. A tecnologia será adotada também na Sala Cecília Meireles, que já passou por obras de impermeabilização da laje. As intervenções ali serão feitas em quatro etapas e incluem, a exemplo do João Caetano, a manutenção no sistema de ar-condicionado.

Em Campo Grande, na Zona Oeste, o Teatro Arthur Azevedo passará por reforma bem mais ampla. O planejado é ampliar a capacidade para 350 lugares, cem a mais que a lotação atual. O local ganhará ainda outras instalações, sendo transformado em centro cultural.

Pelas redes sociais do Teatro Armando Gonzaga, em Marechal Hermes, na Zona Norte, dá para acompanhar um pouco das obras que têm sido feitas no local. Na publicação mais recente, da última segunda-feira, é possível ver operários trabalhando no piso da plateia após a retirada das 205 cadeiras, que serão substituídas: “A todo vapor! Estão assim as obras no nosso TAG! Aguardem o Armando Gonzaga novinho e tradicional”, diz o texto que acompanha a imagem. O teatro tem projeto do arquiteto modernista Affonso Eduardo Reidy (1909-1964).

No Glaucio Gill será investido R$ 1,7 milhão. O teatro ganhará nova bilheteria e passará por alterações no mezanino e nos camarins. As cadeiras serão trocadas, a mesa de som passará por manutenção, e a casa ganhará novo letreiro.

Para o ator Hugo Gross, presidente do Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Rio (Sated-RJ), as obras são bem-vindas, mas ele faz algumas observações:

— Obra, tanto interna, quanto externa, é muito bem-vinda. Só não posso mensurar esses R$ 12 milhões, que é muito dinheiro. Será que vai ser gasto isso? Não adianta deixar o teatro pronto, tem que aproveitá-lo. Voltar com cursos dentro dos teatros, abrir para a periferia, para as pessoas que não têm condições. Não adianta preparar um teatro desses só para receber grandes nomes, grandes espetáculos — pondera Gross.

Teatro João Caetano tem instalação refeita — Foto: Luis Alvarenga/Divulgação

O ator ressalta ainda a importância de recuperar o João Caetano e de garantir ao público e aos profissionais a segurança necessária para frequentar os espetáculos.

— É um teatro ímpar, faz uma grande diferença no Rio de Janeiro. Eu adoro o João Caetano, mas está entregue às baratas. Espero que também tenha segurança, né? A categoria, além de fazer espetáculo, quer que realmente possa ir e voltar com segurança — afirma.

De acordo com o governo do estado, até o fim do ano os recursos destinados ao Acelera Funarj podem mais que dobrar, chegando aos R$ 26 milhões. Por causa das reformas, os teatros Arthur Azevedo, Armando Gonzaga, Glaucio Gill e João Caetano ficarão fechados temporariamente. Não há ainda previsão de quando os espetáculos serão retomados.

— Essas iniciativas asseguram que o legado e a cena artística fluminense continuem a prosperar, beneficiando gerações presentes e futuras — avalia o governador Cláudio Castro.

Post original através de oglobo.globo.com

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