Orquestra 415 apresenta concerto especial de Natal no teatro da Biblioeca

Se fecharmos os olhos e nos deixarmos levar pela sonoridade da Orquestra 415, a sensação será bem próxima à de um concerto realizado num mês de Natal do século XVII, em plena Corte francesa. Essa viagem no tempo é um dos atrativos da apresentação que acontecerá entre quinta (7) e domingo (10), no Teatro da Biblioteca, quando cerca de 50 músicos usarão cópias fiéis de instrumentos da época para o concerto da “Missa da Meia-Noite”. 

Traverso, viola da gamba, violino barroco, flauta doce, violoncelo barroco, guitarra barroca, alaúde e espineta, objetos musicais praticamente ausentes das filarmônicas atuais, darão um caráter mais intimista a uma obra que, para os mais católicas, virou sinônimo de Natal, tendo sido composta pelo francês Marc-Antoine Charpentier e executada durante a missa comandada pelo papa diretamente da Basílica de São Pedro, no Vaticano. 

“(A peça) foi composta especialmente para o tempo de Natal. Ela foi escrita há cerca de 330 anos e é mais conhecida hoje pela Missa do Galo, como tema da noite de Natal”, detalha o maestro André Salles-Coelho, à frente da orquestra mineira criada em 2012, única de formação independente a tocar música barroca de maneira regular, com repertório dedicado ao estilo predominante entre o final do século XVI e que durou até a metade do XVIII. 

Além da possibilidade de ver instrumentos diferentes em ação, o espetáculo também permite acessar um raro concerto natalino, apesar de ser uma das datas mais celebradas de nosso calendário. “Existem poucas músicas escritas para essa época. Podemos citar a ‘Cantata de Natal’, do Bach, mas não tão frequente como a Páscoa, que tem mais obras”, comenta o regente, lembrando que a peça de Charpentier foi composta no período mais central do barroco. 

Será a primeira vez que a Orquestra 415 executará a “Missa da Meia-Noite”. O caráter inédito se amplia com o fato de que, segundo Salles-Coelho, não há registros de que a composição foi apresentada anteriormente, na íntegra, no Brasil. “O que mais chama a atenção é a beleza da peça, que utiliza melodias da música popular francesa da época, cantadas nas ruas do país”, destaca o maestro, que se especializou em música antiga. 

Fruto de um trabalho contínuo em torno do barroco, a orquestra mineira tem como objetivo o alcance de uma sonoridade mais próxima possível da que era ouvida na época. Um aspecto que se destaca é o caráter intimista, fruto de uma formação menor, como eram as orquestras antigamente. “Eram 20 músicos, muito menos do que os 60, 80 de hoje, além do uso de instrumentos que acabaram sendo deixados de lado”. 

Ele explica que a flauta doce, o cravo e as guitarras barrocas não integram orquestras modernas por terem um volume de som mais limitado. “Esse é o nosso grande diferencial, ao trazermos uma sonoridade mais peculiar. Além disso, o jeito de tocar barroco é diferente. O instrumento em si não é difícil, mas a interpretação da música, sim”, compara o maestro, que teve na flauta o pontapé musical, em 1989. 

A escolha por instrumentos parecidos com os usados há três séculos não se limita à parte visual. Alguns materiais precisam ser importados da Europa, por não terem similares no Brasil. Um exemplo é a corda dos violões e violinos, geralmente feita de aço. “Nós usamos cordas de tripa de animal, que são mais complicadas de encontrar. Elas vêm da Itália e são revendidas por uma pessoa em São Paulo”, detalha Salles-Coelho. 

O concerto na biblioteca terá a participação do recém-fundado Coral 415, também especializado na execução da música barroca e formado por 15 profissionais da área de canto. “A música barroca, em grande parte, foi escrita para coral. A gente tinha alguns corais parceiros, mas não era a mesma coisa. Com um coral ligado à orquestra, as possibilidades aumentam”, afirma. A Orquestra 315 já apresentou, desde 2012, mais de cem peças de 60 compositores. 

SERVIÇO 

O que. Concerto especial de Natal – Orquestra 415 de Música Antiga  

Quando. De quinta a sábado, às 19h, e domingo, às 11h 

 Onde, Teatro da Biblioteca (Praça da Liberdade, 21 – Lourdes) 

Quanto. R$ 80 (R$ 40, a meia), à venda no site www.luanovacultural.com/ingressos 

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