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Teatro de Los Andes atravessa a morte e outras fronteiras

Teatro de Los Andes atravessa a morte e outras fronteiras

O grupo boliviano Teatro de Los Andes participa pela terceira vez do Porto Alegre em Cena, após um hiato de 20 anos, apresentando dois espetáculos: Fronte[i]ra Fraca[s]sosexta (15/3) e sábado (16/3), às 20h, no Teatro Renascença –, e Un Buen Morir – Del Amor y Otras Iluminaciones, nos dias 18 e 19 de março, às 20h, no Centro Histórico-Cultural Santa Casaingressos à venda.

A primeira montagem é uma parceria com os Clowns de Shakespeare, do Rio Grande do Norte, e tem direção de Fernando Yamamoto, que integra o grupo potiguar. O espetáculo estreou em 2022, após um processo de pesquisa desenvolvido pelas duas trupes na divisa entre Brasiléia, no Acre, e o município de Cobija, na Bolívia.

“Esperávamos encontrar uma fronteira conflitiva, até porque o Acre pertencia à Bolívia – uma de tantas perdas de território dos bolivianos para os países vizinhos. Mas não. É um lugar de convivência muito pacífica, como se fosse uma cidade só”, conta a atriz gaúcha Alice Guimarães, que além de atuar, desenvolve diversas atividades com o Teatro de Los Andes, fundado em 1991 e sediado em Yotala, próximo à cidade de Sucre.

Foto: Rafael Telles

Na trama de Fronte[i]ra Fraca[s]so – que reúne, além de Guimarães, os atores Diogo Spinelli, Gonzalo Callejas e Paula Queiroz –, um vilarejo vive em harmonia com suas diferenças de cultura, língua e moeda, até a chegada de um grupo de homens que se instala e, por motivos econômicos, decide dividir o local com a criação de uma fronteira e enfrenta a resistência da população. A montagem propõe reflexões sobre fronteiras geográficas e subjetivas e as relações entre os países latino-americanos.

Foto: Rafael Telles

“O Brasil dá as costas para a América Latina. No sul, ainda temos mais contato e proximidade cultural com Uruguai e Argentina, mas ficamos um pouco isolados do restante do continente. Não estudamos a saga de [Simón] Bolívar, a história das independências dos países latino-americanos… Seria interessante nos conectarmos mais”, reflete Guimarães, que em 1997 e 1998 participou de duas oficinas com o Teatro de Los Andes e, desde então, vive na Bolívia. “Fiquei, casei, me estabeleci e estou lá há 26 anos”, completa a atriz, que é casada com o ator Gonzalo Callejas.

O casal interpreta um casal fictício no segundo espetáculo que o Teatro de Los Andes apresenta na 30ª edição do Porto Alegre em Cena. Un Buen Morir – Del Amor y Otras Iluminaciones conta a história de dois atores que, a partir de um café da manhã surreal – o personagem de Callejas já está morto –, revivem lembranças de seus encontros e desencontros. Com direção do chileno Elías Cohen e texto do poeta Alex Aillón Valverde, a montagem aborda a intimidade de um casal longevo e sua finitude.

Foto: Alejandro Grisi

Guimarães conta que ela e Callejas tinham interesse em criar uma montagem sobre relacionamentos, despedidas e a passagem do tempo. A essas temáticas, somaram-se reflexões sobre a morte e o luto, após o falecimento, em 2017, do italiano Giampaolo Nalli, um dos fundadores do Teatro de Los Andes.

“Tínhamos algumas improvisações, ainda sem texto, e fomos ao Chile, pois queríamos o Elías Cohen como diretor. Lá, ele nos contou a história de dois velhinhos chilenos que haviam morrido em casa. Os vizinhos sentiram cheiro de gás, ficaram preocupados e os encontraram mortos. Primeiro, pensaram em um acidente, mas o casal estava de mãos dadas e arrumados sobre a cama. Inspirados nessa história, criamos uma em que um dos personagens está doente e decide encerrar a vida”, conta a atriz.

Foto: Dino Garzoni

O título do espetáculo tem como referência o conceito de buen vivir, da cosmologia andina. “No nosso pensamento ocidental, o ser humano está acima de tudo. Pela cosmovisão andina, somos algo a mais que faz parte da natureza. O teu valor é o mesmo de um jaguar, uma formiga, uma pedra, uma árvore, uma montanha. Não somos nem mais, nem menos”, explica Guimarães.

O bem viver influencia também o entendimento sobre a morte. “Na Bolívia, embora também haja sofrimento, a morte não é negada, ela é bem vivida e faz parte da vida”, completa a atriz, destacando que a montagem dialoga com cenas de Romeu e Julieta, de William Shakespeare, e com a obra de Samuel Beckett.

“Fronte[i]ra Fracas[s]o”, dos grupos Clowns de Shakespeare e Teatro de Los Andes
Quando: 15 de março (sexta-feira) e 16 de março (sábado), às 20h – no sábado, a sessão contará com interpretação em libras e audiodescrição
Onde: Teatro Renascença (avenida Erico Verissimo, 307)
Duração: 90 minutos
Classificação indicativa: 14 anos

“Un Buen Morir”, do Teatro de Los Andes
Quando: 18 de março (segunda-feira) e 19 de março (terça-feira), às 20h – a sessão de terça-feira contará com interpretação em libras e audiodescrição
Onde: Teatro do Centro Histórico-Cultural Santa Casa (avenida Independência, 75)
Duração: 60 minutos
Classificação indicativa: 12 anos
Ingressos: entre 5 e 60 reais, à venda no site do festival e no Living 360° da PUCRS (avenida Ipiranga, 6681) – de segunda a sexta, das 10h às 13h e das 14h às 19h



Post original através de www.matinaljornalismo.com.br

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