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Porchat dirige ‘Agora é que são elas’, comédia com esquetes escritos por ele e Paulo Gustavo, que estreia no Festival de Curitiba | Teatro

Porchat dirige ‘Agora é que são elas’, comédia com esquetes escritos por ele e Paulo Gustavo, que estreia no Festival de Curitiba | Teatro

Sentado na primeira fila de uma pequena sala de teatro, Fábio Porchat faz anotações numa caderneta enquanto acompanha o ensaio de “Agora é que são elas”, comédia que marca sua volta como autor e diretor — a última peça que ele escreveu e dirigiu, à exceção de seus stand ups, foi “Elas morrem no fim”, de 2015. Durante pouco mais de 40 minutos, fez apenas duas observações. “Tira a bola, Priscila”, disse Porchat à atriz Priscila Castello Branco, também sua companheira, num alerta sobre a disposição dos elementos cênicos. Priscila divide o elenco com Júlia Rabello e Maria Clara Gueiros, amigas e colegas das antigas do ator, apresentador, diretor e comediante de 40 anos.

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No dia deste ensaio ao qual O GLOBO acompanhou na semana passada, restavam nove dias para a grande estreia, marcada para esta quarta-feira (26), no Teatro Guaíra. Será a abertura do Festival de Curitiba, o maior evento de teatro do Brasil e que iniciou a sua 32ª edição segunda-feira (25), na capital paranaense. Na quinta-feira (27), haverá mais uma sessão, também no Guaíra — as duas apresentações tiveram ingressos esgotados.

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Uma parte do texto de “Agora é que são elas” estava na gaveta de Porchat há anos e já foi encenado por ele e por Paulo Gustavo na época em que os dois estudavam no Centro das Artes de Laranjeiras (CAL), tradicional escola de teatro do Rio. Outra parte ele escreveu pensando em Priscilla Castello Branco, Júlia Rabello e Maria Clara Gueiros, juntas.

— É muito louco, porque geralmente a gente ouve falar do texto de encomenda. Um ator ou atores que encomendam texto — diz Maria Clara, para quem Fábio escreveu falas no programa “Zorra Total”, da TV Globo, quando começou na carreira de roteirista. — Aqui é meio que o contrário, né? O autor que ficou a fim de trabalhar com a gente porque conhece a nossa embocadura e já faz o texto sob encomenda pra gente.

Júlia foi uma das primeiras atrizes do “Porta dos Fundos”, canal do qual, além de sócio, Fábio sempre trabalhou como roteirista e ator. Quando Fábio diz que ela “sabe como funciona” a sua “escrotidão”, a atriz responde na lata:

— Pelo cheiro! Ele tem uma gaveta infinita de esquete. Conheço ele há muito tempo e é infinita. Ele é essa pessoa com muito ouvido de humor. Não tem ouvido musical? Ele tem ouvido de humor.

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A indicação “risos” ocorreu 27 vezes ao longo desta entrevista. A primeira foi quando Priscilla foi perguntada sobre como era o Fábio diretor.

— É muito diferente porque ele usa roupa (risos) — se diverte a atriz paulistana de 35 anos.

Fábio, o que que aconteceu primeiro? Você já tinha uma ideia de trabalhar com elas e depois vieram os textos, ou primeiro resgatou os textos e depois pensou em fazer com elas?

FP: Conversando com a Priscila, me dei conta de que o Rio de Janeiro tem uma tradição com esquete, né, com besteirol e tal. Tinha pouca coisa de esquete acontecendo. Fui verificar na minha gaveta e vi que tinha umas coisas divertidas que eu escrevi lá atrás, da época que eu comecei a escrever na escola de teatro ainda pra fazer com o Paulo Gustavo. Dos 40 que eu tinha, uns 20 eu dei risada e não eram antiquados pra hoje em dia. Dos 20, eu vi que tinha uns 12 que funcionam pra gente montar. Mostrei pra Priscilla, ela riu e falou “cara, isso dá pra fazer”. Começamos a pensar em nomes pro elenco. Mas muita gente não pôde (risos).

PCB: Fomos atrás delas. A Maria Clara estava em cartaz, a gente intimou ela.

MCG: Eu estava fazendo “Mamma Mia”. Pensei, nossa, claro, feliz da vida. Topei sem nem ler os esquetes.

FP: E aí a gente foi atrás de uma terceira pessoa.

JR: Eu estou devendo dinheiro para ele (risos).

Qual o assunto dos esquetes?

FP: São textos atemporais, neutros, de situações do cotidiano, do dia a dia. Em cima desses textos antigos, escrevi umas coisas novas. Tem um texto que é uma conversa de mãe e filha, fiz já pensando no grito da Maria Clara. Na primeira vez que a gente estava lendo, ela fez um grito. Eu falei: “Maria Clara, esse grito não é assim. Quero o grito como você, Maria Clara, comediante que eu amo, grita”. E aí ela: “MARIA HELENAAA”. E eu: “É esse!!” (risos).

MCG: Mas a gente não quer inventar roda, a gente quer ser engraçado. É um exercício de estilo mesmo, que é o estilo do esquete que ficou meio perdido ao longo dos últimos anos.

FP: É, a gente não quer mudar os rumos da comédia brasileira. Mas queremos fazer bem feito. Vamos fazer cenas curtas, rápidas, engraçadas, sem inventar a roda, mas vamos fazer isso direito.

JR: Olha, é muito dia a dia mesmo. Marido e mulher tendo uma conversa sobre a vida deles ali…

FP: Sobre a rotina sexual.

JR: É … Não sei quanto spoiler eu posso dar. Tem uma mãe e uma filha…

FP: Um spoilerzinho pode dar. Se não a pessoa fala, vamos ver uma peça sobre uma mãe e uma filha… chato, não é? Mas é uma mãe querendo conversar com a filha sobre virgindade? Olha aí… (risos).

As atrizes Júlia Rabello, Maria Clara Gueiros e Priscila Castello Branco: elenco da peça ‘Agora é que são elas’, dirigida por Fábio Porchat — Foto: Divulgação/Pino Gomes

Elas improvisam muito em cima do texto?

FP: Falei pra elas: “quero caco, eu quero piada, eu quero que vocês gerem coisa para eu acrescentar no texto”.

MCG: O autor vivo (risos).

FP: O autor vivo, a pior coisa (risos).

PCB: Mas a gente improvisa sim, super. Ele diz “improvisa aí, gente”. E depois ele fala: “Agora vamos seguir o texto’’ (risos).

JR: Estamos muito em casa, né? É tudo tão natural. A gente vai fazendo e tem uma hora que a gente já não sabe nem mais o que é a gente, o que é o Fábio.

Como tem sido os ensaios?

FP: É legal que você tem três gerações de comédia. Achei isso perfeito e o negócio era ver se elas se davam bem juntas. Nos primeiros 3 minutos eu falei: “vai dar certo”. Já entendi que funciona, já entendi que é engraçado. E o que eu falo para elas é, elas vão se surpreender muito com a quantidade de risada que vai ter. Porque está muito engraçado, só que você não ensaia com plateia, né? A gente vai estrear no Festival de Curitiba, para 2200 pessoas. E lá não vai ser risada, vai ser um rolo compressor. Eu até já ameacei elas, falei que algumas das cenas eu já testei antes, então a culpa é de vocês (se não der certo)…

JR: Ele está preparando a gente para isso. Se ninguém rir, a depressão é por nossa conta (risos).

MCG: E era ele e Paulo Gustavo, olha, que legal (risos).

FP: Eu tenho isso filmado. Não mostrei pra elas, lógico.

JR: Eu assisti na época da CAL.

PCB: Eu não era viva ainda (risos).

Você era da mesma geração deles de CAL, Julia?

JR: Eu era da CAL e quando eles estavam começando, eu estava terminando. Quando eu saí, comecei a produzir teatro. Por intermédio da Samantha Schmutz, que era muito amiga do Paulo, eles me procuraram pra que eu produzisse a peça. Duas crianças. Fábio parecia que tinha 15 anos. Enfim, eu assisti. Fiquei impressionada com os dois. Não dei muita coisa por eles naquele momento, mas quando eu vi eles fazendo, falei: “caraca, eles são bons”.

FP: É, mas não produziu (risos).

JR: É, não produzimos (risos). Mas hoje estou aqui, atuando.

Como vai ser estrear logo num evento do porte do Festival de Curitiba, pra tanta gente?

PCB: Morei em Curitiba durante 4 anos da minha vida e num período de adolescente, então pra mim vai ser meio simbólico. Nunca me apresentei no Guaíra.

JR: Eu estou apavorada. É um teatro enorme. Eu já fui para o festival, mas como produtora. É muito legal, a cidade fica em torno do evento, uma delícia.

MCG: Eu nunca fui a Curitiba. Tenho essa falha no meu currículo. Estou achando o máximo. O pessoal vai com o coração aberto, né?

FP: Quando a gente pega uma peça de comédia e joga no festival, dá um orgulho maior, porque parece que a gente furou uma bolha. Quando você vê, é uma gente pelada, suja de lama, recitando coisas. Aí daqui a pouco tem um Graciliano Ramos. Quando a gente faz uma comédia pro Festival de Curitiba, dá a sensação de que é isso mesmo, o festival também não se leva tão a sério assim. É tão bom a gente poder fazer uma ‘comediona’ abrindo o Festival de Curitiba assim, com duas sessões lotadas. É importante para o festival que tenha essa resposta, sabe? Tem umas comédias legais também, não precisa só ir numa peça muda, iraniana, em preto e branco, no escuro, de 6 horas e 15. Pode ser uma comédia leve também, vale para o festival.

Post original através de oglobo.globo.com

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