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Trupe Ave Lola encena Shakespeare na programação paralela do Festival de teatro de Curitiba | Teatro

Trupe Ave Lola encena Shakespeare na programação paralela do Festival de teatro de Curitiba | Teatro

A atmosfera é acolhedora no casarão dos anos 1950 que vai recebendo, aos poucos, o público para o espetáculo que está prestes a começar. Algumas informações são passadas na entrada e uma delas é tradição ali: pague o quanto quiser pelo ingresso ao final da peça. No centro de Curitiba, a sede da companhia Ave Lola não fica muito longe do Teatro Guaíra e seus 2.200 lugares. Mas é numa tenda que comporta algumas dezenas de pessoas, na área externa do casarão, que a trupe estreou na semana passada sua montagem de “Sonho de uma noite de verão”, de William Shakespeare. A peça, dirigida por Ana Rosa Genari Tezza, está no Fringe, programação paralela do festival de teatro que termina no domingo. O espetáculo da Ave Lola fica em cartaz até o dia 21, de quarta a domingo.

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No intervalo e ao final da sessão, serve-se sopa de abóbora numa cozinha que lembra a de uma casa de avó. Tezza, que é atriz e fundou a companhia em 2010, explica que a comida cumpre uma função ali.

— Andrés Pérez Araya (1951-2002), grande diretor chileno com quem trabalhei, imprimiu em mim um tipo de teatro. Ele foi um dos grandes atores da Ariane Mnouchkine (diretora de teatro e fundadora do fundadora do Théâtre du Soleil, em Paris). Ele herdou algumas coisas dela e eu, por consequência, herdei dele. A gente sempre fazia comida para o público. A ideia é que, entre um vinho e uma comida simples, mas gostosa, as pessoas possam trocar ideia sobre a peça, e a gente fique ali de orelha, observando e congregando — diz a diretora de 54 anos.

Tezza nasceu em Curitiba, mas se mudou cedo para o Acre com os pais, que fugiam do risco de serem presos pela ditadura militar por envolvimento com o movimento estudantil. Já jovem, estudou Artes Cênicas na UniRio, no Rio de Janeiro. Começou a carreira como atriz justamente com Shakespeare, com um papel em “Romeu e Julieta”, com direção de Cleon Jaques. No Chile, nos anos 1990, integrou a Companhia de Teatro Sombrero Verde, dirigida por Araya.

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Depois de passar por muitas companhias, fundou a Ave Lola “com uma dose de irresponsabilidade”, brinca a artista. Hoje, ao todo, a companhia já atraiu mais de 90 mil pessoas em seus espetáculos.

— Nasceu pra ser um lugar de encontro de pessoas de teatro, mas também de outras áreas, como literatura, artes visuais, música, o que de fato acontece hoje. Mas foi uma aventura iniciada de forma meio irresponsável, não tinha muito dinheiro para investir. Tinha ganhado um prêmio para fazer uma pesquisa, fiz a pesquisa sem receber e usei o dinheiro pra manter a Ave Lola por algum tempo. Já tem 14 anos. Está dando certo.

A escolha por Shakespeare neste momento, segundo a diretora, é simbólica:

— É um dramaturgo que ensina sobre a arte teatral. Existe a intuição de um teatro do absurdo, a intuição de um cinema com cortes fantásticos, a sobreposição de tempos e de cenas. Por meio da obra dele você consegue ir desdobrando tudo o que aconteceu com a dramaturgia ocidental.

Em setembro, a Ave Lola monta na Caixa Cultural, no Centro do Rio, a peça “Cão vadio”, escrita e dirigida por Tezza e que “pesquisa sobre o realismo fantástico presente na literatura latino-americana e a linguagem de cabaré”.

Ricardo Ferreira viajou a convite do Festival de Curitiba

Post original através de oglobo.globo.com

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