×

Bailarinos do Balé do Teatro Castro Alves denunciam companhia por abuso e racismo | Aratu On

Bailarinos do Balé do Teatro Castro Alves denunciam companhia por abuso e racismo | Aratu On

Da Redação

Três bailarinos do Balé Teatro Castro Alves (BTCA) assinaram uma carta pública, destinada “à sociedade civil baiana”, com o objetivo de denunciar suposto abuso de poder e racismo por parte da direção da companhia, ano passado. Eles alegam que a forma de informar sobre a não renovação do contrato – que era via Regime Especial de Direito Administrativo (Reda) – foi “inadequada e antiética”.

O trio sinaliza que tinha contratos válidos por 24 meses, assinados em 2020 e renovados em 2022: “Como consta no Artigo 2º da Lei nº 14.182 de 12 de dezembro de 2019, o [então] governador Rui Costa estabeleceu que seria possível realizar uma segunda e última renovação, por mais 24 meses, totalizando seis anos de contrato, vinculados a uma mesma audição”.

Os bailarinos que assinam a carta – Dayana Brito, Fernanda Santana e Ruan Wills – pontuaram que o período de contratação foi marcado por situações como a pandemia de Covid-19 e o incêndio no Teatro Castro Alves (TCA), o que deixou o grupo sem sede e “desprovidos de estrutura necessária para a realização saudável” das atividades. Ainda assim, disseram que seguiram trabalhando e solicitaram, ano passado, encontro com o setor administrativo e a direção do balé, onde teria ficado confirmado que a segunda renovação contratual era legal e deveria ocorrer.

No dia 27 de outubro de 2023, então, eles se reuniram presencialmente com a então diretora do BTCA, Daniela Guimarães, mas afirmam que “nada disto [da não renovação] foi compartilhado”.

Então no dia 30 daquele mês, “na segunda-feira de uma semana de folga que emendava com feriado”, receberam e-mails individuais, enviados pela direção do BTCA, na figura da diretora, e sem cópia das outras instâncias (TCA e Fundação Cultural da Bahia – Funceb), informando que os contratos não seriam renovados, sob a justificativa 0 que o trio considerou “pífia e geral” – de que era “momento de o BTCA oportunizar experiência também a novos artistas da área da dança”. Os bailarinos pontuam que isso já ocorreria ao fim improrrogável dos contratos.

Dayana, Fernanda e Ruan afirmam que esses e-mails foram enviados aos endereços corporativos, aos quais sabiam que não era de uso habitual, e que outros informes eram enviados aos e-mails pessoais. Por isso, só tiveram conhecimento algum tempo depois.

Na carta, eles dizem ainda que “nunca na história do BTCA houve uma dispensa total, sem indicação de motivos justos para tal, sendo a possível renovação dos contratos”. Sugerem, também, tratamento diferenciado, por parte de Daniela Guimarães, para a única dançarina branca do grupo composto por oito profissionais.

“Logo após a descoberta dos e-mails que, infelizmente, não foi imediata, houve nota via rede social da Funceb e Teatro Castro Alves (TCA), na noite de 2 de novembro – feriado nacional -, que apresentava argumento falso de que após 24 meses de prorrogação, faz-se necessária nova audição, e anunciando a mesma. Na publicação consta que o elenco que vos escreve, sem renovação contratual, poderá realizar a próxima audição. Ter essa informação no comunicado não faz o menor sentido, uma vez que nosso contrato não está sendo renovado sob justificativa de dar oportunidade a outros artistas. Estamos seriamente decepcionados com o tratamento desrespeitoso a nós dispensado, que falta com a verdade, causa constrangimento público e apresenta justificativa risível. É sabido, também, que a informação da audição foi concedida por Daniela Guimarães, com exclusividade e pedido de sigilo, por meios não oficiais (mensagem via WhatsApp) e antes da emissão da nota da Funceb, a uma das bailarinas, a saber, a única bailarina branca.”

Ainda na carta, publicada no último dia 26 de março, os bailarinos cobram “explicações plausíveis” para a não renovação contratual. “Exigimos também que as condutas e situações violentas relatadas neste documento sejam investigadas e que sejam aplicadas as medidas cabíveis”, pedem.

“Temos ouvido continuamente que a não renovação dos contratos dos bailarinos foi uma decisão colegiada. Em uma última reunião, Daniela Guimarães nos informou que o diálogo sobre essa decisão não aconteceu pessoalmente por ela estar se sentindo acuada e intimidada pelos artistas do balé do Teatro Castro Alves. Então por que não fomos comunicados por algum outro membro do colegiado?”, questiona o trio.

É informado, ainda no texto, que após algumas reuniões entre bailarinos do estado e contratados por Reda, foi decidido, por unanimidade, que Daniela fosse desligada. Mas, um dia depois dessa decisão, foram comunicados que a então diretora havia pedido para se afastar do cargo.

“Nós, artistas da dança, sabemos que o descaso com a nossa saúde física e mental é recorrente em diversos ambientes de trabalho. A violência gera medo e omissão. Nunca nos sentimos tão silenciados quanto nessa gestão [de Daniela], mas, hoje, trazemos questionamentos maiores do que a situação de nossos contratos. Até quando nossos corpos serão tratados como descartáveis? Será que depois de quatro anos de trabalho de excelência não merecemos uma comunicação mais humana?”, indagam.

É a primeira vez na história do BTCA que entram sete negros na mesma audição. É também a primeira vez na história do BTCA que é feita uma não renovação em massa. Será coincidência ou falta de ferramentas para lidar com as questões que trazemos conosco? Pelo histórico da companhia e pelo contexto social o qual surge, sempre foi delicado trazer assuntos (raciais, estética que comunique com a sociedade baiana, imagens que são criadas). Esses assuntos tabus que vêm sendo já trazidos por alguns colegas que vieram antes, e que seguíamos tentando tratar com jossos ex-diretores e colegas. A última gestao foi retrocesso na luta que começou antes pelos colegas de BTCA.

[…] Seguimos na luta contra as injustiças que sofremos, assim como esperamos que esse trilho de violências não se repita com os que vieram depois de nós”.

Leia aqui a carta na íntegra.

Procurado pelo Aratu On, o Balé Teatro Castro Alves (BTCA) destacou que Daniela Guimarães não está no cargo de diretora desde o dia 7 de novembro de 2023. O posto foi assumido por Rose Lima, também diretora artística do TCA. Além disso, a companhia reforçou que o Reda não foi renovado, e não cancelado.

Confira, abaixo, a íntegra do comunicado à imprensa:

O Balé Teatro Castro Alves (BTCA) é um corpo artístico estável do Teatro Castro Alves (TCA), mantido pela Fundação Cultural do Estado da Bahia (Funceb) e Secretaria de Cultura do Governo do Estado da Bahia (SecultBA). Atualmente, a direção artística da companhia pública de dança está sob gestão de Rose Lima, também diretora artística do TCA, que assumiu o cargo interinamente desde o dia 07 de novembro.

O BTCA tem seu elenco formado por dançarinos efetivos, que compõem a base da companhia com toda sua experiência, e novos bailarinos que vêm sendo incorporados através de Processos Seletivos Simplificados para contratação de pessoal por tempo determinado em Regime Especial de Direito Administrativo (REDA), cuja mais recente seleção ocorreu em 2019.

Sobre os questionamentos referentes a não renovação de contratos via REDA de oito bailarinos, o BTCA esclarece que foi cumprido o prazo determinado de 24 meses e feita a renovação por igual período (mais 24 meses) dos profissionais contratados. Uma avaliação feito em conjunto com a Funceb e a SecultBA considerou benéfica e necessária a abertura de um novo certame para ocupação das vagas variáveis da companhia, dando a um novo grupo de jovens talentos a oportunidade de compor um grande corpo de dança com estrutura estatal e de trazer novos diálogos ao cotidiano do elenco.

Com a gestão interina de Rose Lima como diretora artística, o BTCA estabeleceu um plano de atuação em 2024 com o objetivo de fortalecer um ambiente seguro e saudável, além de promover a companhia de dança e as artes em nosso estado. O plano contém quatro focos:

1. Percepção institucional: referente ao funcionamento da companhia de dança. Estudos de caminhos através de diálogos, propostas administrativas e jurídicas, juntamente com Teatro Castro Alves, Fundação Cultural do Estado da Bahia, Secretaria de Cultura do Estado da Bahia, SAEB e outras Secretarias do Governo do Estado;

2. Visão filosófica: BTCA e suas relações, crenças e interações. Como este corpo estável se comunica internamente, quais os caminhos artísticos a companhia está trilhando para si e como esses caminhos influenciam o cenário artístico atual;

3. Criações Artísticas: Produções e apresentações artísticas com o corpo estavel de dança com foco na retomada do diálogo com o público, evidenciando a potência da diversidade de corpos maduros, o valor da história desses intérpretes e a capacidade dessa companhia de experimentar novas propostas artísticas e proporcionar diferentes possibilidades, sentidos e diálogos com o seu público;

4. Circulação: Dar prosseguimento ao “reencontro” com a cidade de Salvador e estendê-lo a outras cidades do nosso Estado, incluindo também, a possibilidade do surgimento de novas conexões artísticas.



Post original através de aratuon.com.br

Post Comment