×

Minha Nossa Companhia traz “Temporada de Caça” a BH

Minha Nossa Companhia traz “Temporada de Caça” a BH

As relações tóxicas de trabalho dão a tônica de “Temporada de Caça”, que faz três sessões no Galpão Cine Horto

Patrícia Cassese | Editora Assistente

Um grupo de candidatos selecionado pelo setor de recursos humanos de uma empresa disputa uma vaga de trabalho. Desse modo, os recrutadores da firma os guiam em entrevistas e dinâmicas. A ideia é testar habilidades. Ocorre que as etapas são infindáveis. E, a cada ação, a relação de poder entre recrutadores e candidatos se torna mais invasiva. Desse modo, até as mídias sociais de cada um são vasculhadas. Neste compasso, opiniões se tornam perigosas. Essa é a descrição da peça “Temporada de Caça”, do grupo curitibano Minha Nossa Cia de Teatro, que chega agora a BH.

A iniciativa tem direção do dramaturgo, diretor e ator mineiro Vinícius de Souza, bem como texto do paranaense Dimis. Vale dizer que “Temporada de Caça” estreou em agosto de 2023, em Curitiba. A partir daí, recebeu indicações ao 34º Prêmio Shell de Teatro e ao 40º Prêmio Troféu Gralha Azul. Na capital mineira, o espetáculo fica em cartaz de sexta, 19, a domingo, 21 de abril. Confira, a seguir, trechos da entrevista de Vinicius de Souza ao Culturadoria.

Retorno

Temporada de Caça” recebeu várias indicações a prêmios, mas queria saber mesmo sobre o feedback do público… As pessoas se identificam com as situações, contam casos, compartilham experiências?

Na verdade, acho que na trajetória do espetáculo, que agora está saindo de Curitiba pela primeira vez, mais importante que os prêmios, de fato tem sido o encontro com o público. E um público bastante amplo. “Temporada de Caça” é uma peça que se comunica diretamente com uma grande parte da população. Ou seja, gente que já passou por alguma experiência de entrevista de emprego, de dinâmicas feitas para contratação ou que, tal qual, já pertencem ao mundo corporativo. Assim, esses jogos de poder que acontecem no interior dessas empresas. As relações de trabalho várias vezes muito tóxicas. Isso em uma instância microscópica ou macroscópica.

São essas situações que permeiam a vida de muitos brasileiros…

Sim, pessoas que inclusive se veem reféns dela – afinal, precisam daquele emprego, precisam do dinheiro que recebem ali. Portanto, ficam mesmo à mercê dessas relações. Isso é muito comum e é o que mais é exposto na peça. Só que de uma maneira cheia de ironia, de humor. Então, há dois elementos em “Temporada de Casa” que estão bem próximos da vida do brasileiro comum. Primeiramente, o humor. Em geral, o brasileiro e as brasileiras têm muita facilidade para receber um trabalho artístico cultural que é engraçado, que tem humor.

E, ao mesmo tempo, (tem) essa vida dos trabalhadores nas empresas, nas fábricas, onde têm que lidar com as contradições do universo corporativo. “Temporada de Caça” tem esses dois elementos. E por isso parece estar tão próxima do público. Desse modo, ao fim das sessões, ou mesmo através das redes sociais, a gente recebe vários relatos e impressões do público. Muitos dizendo coisas do tipo: ‘Nossa, já vivi igualzinho, lá, no meu trabalho’. E por aí vai.

Que reflexões querem provocar no espectador?

O que a gente pretende, com “Temporada de Caça”, é que essas relações e jogos de poder que acontecem no universo corporativo sejam expostas. Então, não nos interessa, de antemão, provocar uma reflexão já pronta, já determinada, entregue para o espectador. Assim, através da narrativa, das personagens, do humor, do deboche, da ironia, o desejo é expor esse cenário que tem sido cada vez mais presente na vida dos trabalhadores. E, a partir dessa exposição, que a gente perceba as reais intenções de determinadas empresas. Ou seja, como é que o capitalismo vai percorrendo as escolhas dessas empresas e o modo como vão encaminhar o trabalho daqueles que passam a fazer parte delas.

Desse modo, acho que boa parte das reflexões, a gente deixa mesmo para o público, a partir do que é exposto. E o que a gente expõe vem muito a partir do texto do Dimes, que é uma pessoa que já experimentou essas relações de trabalho de modo muito intenso, em experiências pessoais. Assim, tudo o que a gente está expondo vem de algo facilmente perceptível, mas que no teatro ganha essa lupa. Ou seja, ganha um acento que parece fundamental para essas reflexões que virão a seguir. O teatro é essa essa ferramenta importante, aguda, para que a gente veja e reveja as relações humanas, como é que elas estão se dando.

Pensam que há alguma solução possível ou “a coisa” só vai piorar?

Olha, sendo sincero, eu não me vejo como alguém capaz de prever o futuro do universo corporativo, das condições de trabalho no mundo contemporâneo. O que me parece é que, enquanto as relações de trabalho e o próprio trabalho estiverem funcionando a partir de uma lógica capitalista, que prevê sempre o dinheiro acima das relações humanas e do próprio humano, então, parece que a coisa vai piorar. Me parece que se houvesse a busca por um outro sistema, no qual os valores sejam outros – e não o poder e o dinheiro e a ganância. Aí sim, eu veria um futuro mais promissor, mais solidário, mais humano. Um lugar no qual o trabalho realmente signifique uma coisa importante na vida das pessoas.

Como está agora, com o capitalismo regendo essas relações, me parece que a coisa de fato só pode piorar. Porque o capitalismo é um sistema, é um modo de funcionamento que guarda dentro de si mesmo a implosão. É impossível mantê-lo porque ele requer cada vez mais. É um sistema insaciável e completamente desumano. Ele vai consumindo cada vez mais os humanos, até o osso. E vai consumindo cada vez mais as riquezas minerais, as riquezas naturais, o próprio mundo, né? Fauna, vegetação… Ele não tem fim. Então, me parece que, hoje, o mundo corporativo vinculado completamente com o capitalismo, ele tende a uma espécie de um apocalipse. Espero que, e fico esperançoso, que a gente consiga reverter isso.

Serviço

“Temporada de Caça”

Quando. Dias 19, 20 e 21 de abril (sexta a domingo às 20h)

Onde. Galpão Cine Horto (Rua Pitangui, 3613, Horto)

Quanto. Contribuição espontânea. Retirada de ingressos na bilheteria do teatro 1 hora antes do espetáculo.

Gênero: comédia

Classificação: 12 anos

Duração: 90 minutos



Post original através de culturadoria.com.br

Post Comment