CRÍTICA / TEATRO / SENTENÇA DE VIDA
Ambientes hospitalares e doenças são sempre retratados como uma zona de guerra, com o embate entre Eros (vida) e Tanatos (morte). E quando se trata de um vírus que mudou a forma de relacionamento libertária, fruto da revolucionária década de 1960, o preconceito que começava a diminuir depois de Stonewall (o episódio de 1969, em Nova York, que marcou o início do chamado Orgulho Gay), o efeito foi devastador.
“Sentença de Vida” trabalha com o paradoxo. O que é morte vira vida, o que é tristeza vira alegria, o que é expulsão vira acolhimento, o que é derrota vira vitória. O eixo paradoxal está presente na construção do espetáculo. O clima de cabaret é a própria estrutura. Pequenos quadros, muita ironia, paródias, música pontuando tudo o que é dito. E os atores vestidos com os figurinos clássicos, meias arrastão, bota, maquiagem exagerada.
O projeto é do multitalentoso Gilberto Gawronski – também diretor, que divide o palco com as premiadas Clarisse Derzié Luz e a drag queen Suzy Brasil. Um procedimento cênico genial. Há um biombo que representa o ocultar, o esconder, o isolar, que é aberto cada vez que se conta uma nova história.
O desempenho dos três é superlativo pois o clima meio chanchada, meio cabaré, permite que o substrato de trajetórias dificílimas se transforme em um número de explosão de alegria. Há se que se pontuar a trilha sonora, com músicas populares que reforçam a proposta da peça. A vida com alegria é possível, desde que seja essa a escolha.
SERVIÇO
SENTENÇA DE VIDA
Teatro Firjan SESI Centro (Avenida Graça Aranha, 1, Centro)
Até 19/12, segundas e terças (19h) | R$ 30 e R$ 15 (meia)
Post original através de https://www.correiodamanha.com.br/cultura/teatro/2023/12/106678-critica-teatro-sentenca-de-vida-toda-forma-de-amor-vale-a-pena.html:
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