Tiago Barbosa critica falta de diversidade em musicais

Poucos são os atores que, dentro de uma seara tão abrangente e – ainda assim – excludente como o teatro musical , conseguem construir carreira de sucesso em um país estrangeiro e refletir o êxito em seu país. Tiago Barbosa é uma dessas exceções que, após iniciar trajetória como cantor no reality show Ídolos, abocanhou o papel do príncipe Simba na primeira montagem brasileira de O Rei Leão, montagem brasileira para o blockbuster da Broadway que ganhou temporada em 2013.

A partir dali, Barbosa emendou outros musicais no Brasil, mas foi atendendo a um convite da Disney Theatrical Group, divisão destinada a tratar das adaptações para os palcos dos filmes clássicos do estúdio, que o ator viu sua trajetória decolar ao reprisar o papel de Simba na montagem espanhola de O Rei Leão, onde permaneceu por quatro anos.

O sucesso na pele da personagem clássica dos desenhos animados rendeu ao ator a atenção de diretores e produtores de elenco espanhois, que o levaram a abocanhar outro grande papel, a drag queen Lola de Kinky Boots, adaptação para os palcos do filme homônimo que alçou a carreira de Billy Porter nos Estados Unidos. O musical levou Barbosa a disputar com Antonio Banderas o troféu de Melhor Ator em musicais no prêmio mais importante do teatro espanhol.

Agora, uma década após estrear no teatro musical e com carreira estabelecida em pelo menos dois países, Barbosa retornou à praia inicial de sua vida ao reassumir o papel de Simba na remontagem de O Rei Leão em cartaz no palco do mesmo Teatro Renault onde pisou há 11 anos.

“Passados 11 anos desde que fiz pela última vez essa obra em português, e quatro anos desde que me despedi desse personagem em castelhano, tem sido um processo gostoso e de muita disciplina esse regresso”, diz o ator. “Meu corpo se acostumou a fazer esse papel em castelhano, então preciso me manter atento e vivo em cena, porque estou condicionado a essa língua. É um desafio”.

O ator entrou já no final da temporada para substituir Thales César, que deixou a produção em condições que não foram elucidadas nem pelo ator e nem pela produção. Em junho, após o anúncio de que Barbosa reassumiria o papel até as últimas sessões, César postou um vídeo em seus stories no Instagram dando a entender que foi pego de surpresa com a notícia. O ator está no elenco da nova montagem de Hairspray, dirigida por Tiago Abravanel.

O assunto circulou entre o meio do teatro musical, mas não chegou a Barbosa, imerso em processo de ensaios para retomar o espetáculo. “O Tiago mudou, o espetáculo é formado por uma geração diferente da minha e tudo é muito novo. É outra companhia e estou respeitando muito esse trem que já estava andando nesse trilho. Mas é claro que também imprimo a minha personalidade no show”, diz.

A princípio, O Rei Leão, que sai de cartaz em 28 de julho, domingo, será o último trabalho do ator no Brasil. Barbosa pretende retornar à Espanha no próximo mês para se preparar para uma turnê do musical Kinky Boots pela Europa. Antes, contudo, deve realizar outras apresentações de seu show, Tiago Barbosa Canta Milton Nascimento, no qual dá voz à obra do compositor carioca de criação mineira com ênfase nas canções que formataram o histórico álbum Clube da Esquina.

A próxima apresentação, agendada para domingo, 07, vai marcar também novo passo adiante na carreira de Barbosa, que inclui sua primeira música autoral, Desculpa, no roteiro do show. A apresentação marca o pré-lançamento da canção nas plataformas de streaming.

“O público vai poder, enfim, conhecer uma canção minha, que vem da minha veia”, diz o ator que, embora fora do Brasil, não deixa de perceber os movimentos feitos pelo mercado do teatro musical tupiniquim, que, a seu ver, ainda está atrasado no que diz respeito à representatividade e à aceitação de pessoas diversas em seus elencos.

“Isso existe porque existe um patrocínio voltado à isso. Não é verdadeiro. Não existe uma consciência de que somos mais da metade da população mista. Negra, parda! O Brasil ainda se vê ibérico, elitista. Pensam em um homem negro para determinado papel, mas quando esse ator se coloca no lugar de protagonista do seu trabalho e exige respeito, igualdade no trato, no salário, aí ele é visto como arrogante. Ele vira uma estrela no sentido mais pejorativo da palavra”.

“É bom ver que o mercado brasileiro está se abrindo às diferenças e às quebras de paradigmas, mas ainda estamos distantes. É necessário pensar no Brasil como Brasil, somos mistos, diferentes, é tempo de atualizar essa página, porque lá fora isso já acontece”, garante.

A Europa, inclusive, é também uma preocupação do ator. O crescimento exponencial de governos de extrema direita e a eleição massiva do primeiro turno na França, que aumentou o poder do partido Reagrupamento Nacional, de Marine Le Pen, é visto com receio pelo ator, que enxerga uma luta na Espanha contra um retrocesso.

“A Espanha vive um processo não muito diferente do que o Brasil viveu pouco tempo atrás, essa luta contra esse retrocesso todo. Eu hoje sou um cidadão espanhol e vejo que é diferente o processo de luta lá do outro lado do continente ibérico. Sei que sempre estarei competindo com homens brancos, mas é difícil você ser colocado na escala e precisar bater sempre nessa pauta, quase todos os dias, aqui no Brasil”.

TIAGO BARBOSA CANTA MILTON NASCIMENTO

Data: 07 de julho (domingo)

Local: Teatro Gazeta – São Paulo (SP)

Endereço: Av. Paulista, 900 – Bela Vista, região central

Horário: 18h

Preço do ingresso: R$ 70,00 (meia) a R$ 140 (inteira)

O REI LEÃO

Data: até 28 de julho (qua. a dom.)

Local: Teatro Renault – São Paulo (SP)

Endereço: Av. Brigadeiro Luís Antônio, 411 – República, região central

Horário: 20h (qua. a dom.); 15h (sáb. e dom.)

Preço do ingresso: R$ 65,00 (meia) a R$ 450,00 (inteira).