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Súbita Companhia de Teatro, de Curitiba, se apresenta em BH

Súbita Companhia de Teatro, de Curitiba, se apresenta em BH

A bordo do espetáculo “Aqui – Amanhã é Outra Imagem”, a Súbita Companhia sobe ao palco do Galpão Cine Horto neste sábado e domingo, 20 e 21 de julho

Patrícia Cassese | Editora Assistente

“AQUI – Amanhã é outra imagem”, espetáculo que a Súbita Companhia de Teatro, de Curitiba, apresenta neste final de semana em Belo Horizonte, teve o processo de criação iniciado dias antes de a pandemia da Covid-19 demandar o estado de quarentena no Brasil- ou seja, em março de 2020. Com o isolamento social, claro, houve, ali, uma ruptura. Assim, a montagem só foi estrear em setembro de 2022, no Teatro Novelas Curitibanas – Claudete Pereira Jorge, em Curitiba. Para compensar a tensão gerada pelo hiato (e, naturalmente, pela própria pandemia), as 20 apresentações tiveram ingressos esgotados.

Agora, Belo Horizonte é a primeira cidade a receber a montagem após a estreia. As sessões serão no sábado e domingo, dias 20 e 21 de julho, no Galpão Cine Horto. Em “Aqui – Amanhã é outra imagem”, cinco artistas estão reunidos num teatro onde o teto se abre gradativamente e invade a cena, cobrindo os seus corpos de pó. Um buraco que para cada uma das personagens significa algo diferente, diz o enunciado.

Em cena, estão as atrizes Dafne Viola, Helena de Jorge Portela e Patricia Cipriano, assim como os atores Cleydson Nascimento e Pablito Kucarz. A dramaturgia, vale lembrar, é resultado de um trabalho de criação coletiva. Aliás, este é um modus operandi característico da Súbita Companhia, posto que os artistas que a compõem compartilham o desejo de fazer arte de um ponto de vista coletivo, autoral e contemporâneo. Assim, o texto foi escrito pelo elenco e, depois, estruturado por Lígia Souza, a convite da diretora Maíra Lour.

Buraco no teto

Ao fim e ao cabo, Maíra entende que a dramaturgia acaba usando da metáfora do próprio teatro para falar de coisas que, de alguma maneira, estão constantemente sob ameaça. “A questão da morte das artes cênicas sempre paira no ar. Ainda assim, o teatro segue resistindo às precariedades, à censura, ao descaso de governos, às pandemias. E, a despeito de tudo isso, artistas prosseguem fazendo-o. Ou seja, essa ação reafirma a cada momento a função social e cultural da arte”.

Cena do espetáculo que a Súbita Companhia de Teatro leva ao Galpão Cine Horto (Maringas Maciel/Divulgação)

Como dito, em “Aqui – Amanhã é outra imagem” há, em cena, um buraco no teto do teatro, que vai se abrindo devagar. “Desse modo, cada personagem enxerga a situação sob um ponto de vista. E, na verdade, não há um que seja certo, mas, sim, uma pluralidade de reações ao que nos amedronta. Assim, podemos nos paralisar, ignorar, tentar consertar sem as ferramentas corretas, rir, chorar, mobilizar pessoas… E tantas outras ações possíveis. Justamente por isso essa metáfora pode ser levada a tantas outras questões da vida pessoal cotidiana. Tal qual, da vida pública do país e do mundo”, explana.

Pandemia

Voltando ao início do processo, quando, no Brasil, a decretação da quarentena se tornou imprescindível, Maíra conta que, apesar da impossibilidade dos ensaios presenciais, os integrantes da Súbita seguiram empenhados na criação dos textos que dariam corpo à dramaturgia. “A própria experiência do isolamento e da tensão sobre nosso futuro frente ao horror da Covid-19 esteve bastante presente nas conversas. Do mesmo modo, o fato de o nosso ofício não poder existir na forma de encontro presencial nos fez pensar em tantas outras situações no curso da história nas quais, por diferentes motivos, fomos impedidos de estar em cena”.

No espetáculo, a Súbita Companhia traz histórias pessoais sobre a relação do teatro na vida de cada ator e atriz. “E, assim, vamos desdobrando as personagens e a relação delas com o tal buraco que se abre no teto”. Vale lembrar que, em 2021, antes da estreia propriamente dita, Súbita lançou seis curtas-metragens frutos desta pesquisa (realizados durante a pandemia), bem como publicou a dramaturgia do espetáculo que, na verdade, só viria estrear no ano seguinte, 2022.

Interação

Maíra ressalta que todos os integrantes da Súbita entendem que a plateia é parte intrínseca ao acontecimento teatral. “Se o público não está lá, nada acontece”. Assim, o espetáculo que agora chega a BH se ergue a partir do princípio de que todos os presentes na sala estão efetivamente juntos. “Ou seja, respirando juntos, sentindo juntos, decifrando juntos os códigos do teatro e o que pode nos acontecer neste momento que não volta mais. Não há um tipo de interação direta, do tipo entrar em cena, mas, sim, o público e os artistas estão bastante próximos, vivenciando as cenas”.

Sendo assim, Maíra acredita que “Aqui – Amanhã é outra Imagem” tem o dom de emocionar, bem como o de abrir questionamentos importantes também para públicos diversos. “Ou seja, que não necessariamente são profissionais da arte, porque as reflexões vão além das questões sobre o teatro. E acredito também que as peculiaridades da vida de artista e dos bastidores são super interessantes”.

Encenação

A diretora da Súbita ressalta ainda que a encenação do espetáculo é concebida para gerar movimento, ação. “Para inquietar o corpo a seguir fazendo, sentindo, existindo, criando novas narrativas sobre nós mesmos”.

Cenário, figurinos e trilha

Ela também pormenoriza outros aspectos da montagem. Assim, o figurino, explica, foi pensado para expressar as personalidades das cinco personagens. Ou seja, a atriz do vestido de festa, a atriz muito alta, o ator sem cabelos, o ator da capa de chuva e a atriz dramática. “A figurinista Isbela Brasileiro buscou elementos marcantes para cada personagem, que definem o modo de ver o mundo de cada um”.

A estética busca desenhar um grupo de artista com aquilo que podem carregar (“os adereços mais necessários”). “Então, o cenário se constitui em um urdimento com uma mecânica rudimentar operada por uma assistente de palco. Assim, há a impressão de um teto que se abre e, no palco, apenas uma cadeira, que é compartilhada por todos. Partimos da ideia do palco vazio inspirados por (pelo diretor de teatro e cinema britânico) Peter Brook 91925-2022). E ali vai acontecendo uma dramaturgia de ações físicas bastante intensas e um jogo dinâmico entre o elenco”.

O espetáculo da Súbita Companhia conta com a trilha sonora original de Rodrigo Stradiotto e, como pontua Maíra, persegue a ideia de sobreposição de tempos. Tal qual, dá a intenção de um grande plano sequência, “que podemos rever algumas vezes durante a peça, de maneiras diferentes”.

Propósito

No geral, diz, o trabalho é fruto de um pensamento de companhia que se propõe a estar aberto a responder artisticamente àquilo que parece urgente e importante aos componentes. “Assim, conectados fortemente ao agora, mas sem esquecer o passado e, do mesmo modo, perseguindo o futuro. A marca da companhia de estudos do corpo e da fisicalidade em cena se mostra vividamente neste espetáculo, que busca encenar uma sobreposição de tempos no mesmo espaço para trazer o sentido de que estamos há muitos tempos fazendo arte e repetindo, repetindo”.

Sobre a Súbita Companhia de Teatro

Com sede em Curitiba, a Súbita Companhia de Teatro é um coletivo de artistas que, desde 2007, cria espetáculos, produtos audiovisuais, publicações e ações formativas. Desenvolve uma pesquisa continuada em encenação e dramaturgia contemporâneas, com foco nos estudos do corpo e do movimento. Ao longa da trajetória, já são 17 peças, três cenas curtas, oito curtas-metragens, dez publicações em dramaturgia, um evento internacional de formação artística. E, ainda, workshops, residências, temporadas, circulações e participações em eventos culturais e festivais.

Em 2024, a Súbita foi contemplada no Programa Funarte de Apoio a Ações Continuadas – Grupos e Coletivos Artísticos, que promove as ações da companhia durante todo o ano. Ou seja, oficinas e residências com artistas nacionais e internacionais, circulação de espetáculos de repertório, criação de espetáculo inédito e publicação de dramaturgia.

Serviço

“Aqui – Amanhã é Outra Imagem” – Súbita Companhia de Teatro (Curitiba)

Quando. Dias 20 e 21 de julho (sábado e domingo), às 20h

Onde. Galpão Cine Horto (R. Pitangui, 3613 – Horto)

Quanto. Ingressos: R$20 (inteira) | R$10 (meia), no Sympla

Classificação indicativa: 16 anos

No dia 21 de julho, domingo, a apresentação contará com recursos de acessibilidade

em LIBRAS e audiodescrição.

Mais informações: Instagram oficial da Súbita ou no site do grupo

Post original através de culturadoria.com.br

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