×

Atriz brasileira Simone Shuba comenta trocas de experiências entre Brasil e Rússia no estudo do teatro

Atriz brasileira Simone Shuba comenta trocas de experiências entre Brasil e Rússia no estudo do teatro


Simone Shuba é atriz, diretora, professora e especialista em teatro. É mestre em Literatura Russa pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo. Os objetos de sua pesquisa são o teatrólogo russo Konstantin Stanislavski e o sistema de formação de atores criado por ele. Em 2016, a atriz lançou o livro “Stanislavski em processo: Um mês no campo – Turguêniev”.


Desde 1997, Simone Shuba treina atores no Teatro Escola Macuníma. Ela também é atriz e diretora da trupe Companhia dos Viajantes.


– O que, na sua opinião, ajuda os brasileiros a dominar o sistema Stanislavski; e o que, ao contrário, dificulta?


– O que ajuda muito é o fato de termos muitos especialistas do sistema Stanislavski. Mas tudo começou no meu país, em grande parte, graças a Eugênio Kusnet, que veio da Rússia. Nas décadas de 40 e 50, ele foi o primeiro a lecionar no Brasil pelo sistema Stanislavski. Depois, nos anos 1970, tivemos Nair D’agostini. Ela estudou na Rússia e se tornou a primeira professora brasileira a estudar em São Petersburgo. Mais tarde, ajudamos muitos especialistas, que trabalhavam com o sistema Stanislavski, a passar por um estágio no Teatro Escola Macunaíma. Nós também usamos diversos manuais e livros para promover essa metodologia no Brasil.


E a dificuldade em relação aos livros sobre o sistema Stanislavski terem sido traduzidos do inglês para o português. Isso não é a mesma coisa do que traduzir do original. Considero ser muito importante traduzir esses livros do idioma russo.


– Você mesma escreveu o livro sobre o sistema de Stanislavski. Poderia nos contar mais sobre ele?


– Eu estava interessada em saber como ele desenvolveu a ideia. Durante minha pesquisa, percebi que ele estava fazendo muitas perguntas, queria chegar ao cerne da questão. Quando seu sistema estava surgindo, em 1909, ele começou a ter dificuldade com os atores. E Stanislavski estudou profundamente a profissão de artes cênicas. Eu quis enfatizar como é difícil difundir ideias, especialmente se estão associadas a algo totalmente novo. Stanislavski enfrentou muitos problemas porque as pessoas na época não viam o potencial do que ele estava propondo. Havia muitas barreiras. No final, o processo deu certo, atingiu o sucesso e deu vida ao trabalho “Um mês no campo”, adaptação de uma peça de Turguêniev, que gerou aclamação pelo público.


A ideia principal do meu livro: quando você começa algo novo, é importante não desistir. A arte é difícil. Todas as pessoas têm dificuldades. É importante acreditar no seu trabalho. Acreditar que a arte e o teatro desempenham um papel importante no nosso mundo. Essa é a mensagem do meu livro. É claro que traduzi muito material para o português para que pudéssemos nos aproximar do aprendizado do estágio inicial do sistema de Stanislavski.


– Como você avalia o desenvolvimento do ensino de teatro no Brasil?


– Ele vem melhorando com o tempo. As universidades, os livros e as pesquisas contribuem para isso. Estamos avançando.


– Quais produções são as prioridades de sua associação no momento?


– Acho que o mais importante para a Companhia dos Viajantes é a profundidade do material. Estamos falando de teatro que criamos com nosso coração e alma. É algo espiritual. Revelamos o mundo interior de uma pessoa, mostramos sentimentos. É assim que vejo nossa missão.


– Quais clássicos russos são os mais difíceis de encenar?


– Fiodor Dostoiévski. Ele mergulha constantemente no abismo da alma humana. Suponho que muitas obras literárias sejam difíceis de encenar. Mas quando você entende um livro em um nível profundo, tudo dá certo.


– As políticas culturais dos países são diferentes umas das outras. Você acha que o país deve se envolver no funcionamento dos teatros e apoiar o seu desenvolvimento?


– Acredito que a cultura e a arte pertencem ao povo, e o apoio deve vir de organizações privadas ou públicas.


– Você foi convidada de honra do festival Sua Chance | GITIS Fest. Qual foi a produção que mais a encantou? E por quê?


– Em primeiro lugar, estou muito feliz por estar aqui [na Rússia]. É uma grande honra. Maria Knebel deu aulas aqui. Ela trabalhou com Stanislavski. Durante o espetáculo, eu não entendia as palavras, mas as sentia. Eu queria mergulhar na história. Afinal, pude sentir o significado da produção para os atores. Eles estavam envolvidos, e ela me encantou.


Vim para o festival estudantil. Estava curiosa para saber como tudo funcionava. Assisti a aulas de alunos da Índia. É muito curioso estar em outro país e ver a interação de diferentes culturas, como jovens de outras partes do mundo interagem com o professor, como é o formato de comunicação. É algo muito divertido. É uma aula realmente interessante.


– Qual foi sua impressão sobre os professores que conheceu no GITIS?


Excelente. Gostei muito deles. A Tatiana, com quem interajo aqui todos os dias, faz de tudo pelos alunos. É uma professora maravilhosa, muito sensível. Assisti a uma aula sobre discurso de palco. Foi uma técnica nova para mim. Também participei de uma aula de movimento cênico e fiquei absolutamente encantada. Gostei muito dos professores locais. Conheci pessoas maravilhosas. Acho que tive muita sorte. Todos os professores russos que conheci são maravilhosos.


– Recentemente, Omsk sediou um festival de apresentações individuais chamado “Chat: Festival de Produções Individuais”. Na sua opinião, com o que precisam lidar os diretores e atores ao trabalhar em tais produções? Esse formato é popular no Brasil?


– Eu não diria que é muito popular, mas nós montamos essas peças. Ultimamente, com muito mais frequência, porque é mais fácil de encenar. Acho que toda forma de arte é bonita.


– Como você avalia a interação teatral entre a Rússia e o Brasil?


– Gosto bastante. Espero que continuemos a nos aproximar, a estudar a cultura um do outro. Mas acho que a Rússia e o Brasil são semelhantes em alguns aspectos. Podemos nos comunicar, compartilhar conhecimento.


– Como você sabe, cinco novos países entraram para o BRICS este ano. Como você avalia as perspectivas de intercâmbio teatral entre o Brasil e esses países? As peculiaridades das escolas de teatro locais são de interesse para o Brasil?


– Acho que o BRICS é importante. Mas a associação agora está mais focada em economia e saúde. Não há muita cooperação cultural. Deveríamos tentar fazer mais intercâmbios culturais, porque os países que entraram recentemente para o BRICS são únicos. Eles têm uma cultura diferente. É importante encontrar maneiras de trocar experiências, visto que essa é a única maneira pela qual a arte pode se desenvolver.


– Essa é uma ideia maravilhosa. Quais são seus planos para o futuro?


– No futuro, eu gostaria de criar um curso especial para professores. Gostaria muito de realizar esses cursos, tanto na Rússia quanto no Brasil. Cursos para professores baseados no sistema Stanislavski.


Você pode assistir à entrevista completa
aqui.


Fotografia: printscreen do vídeo da entrevista

Post original através de tvbrics.com

Post Comment