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Peça sobre casamento de transexual em penitenciária lota Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa

Peça sobre casamento de transexual em penitenciária lota Teatro Ednaldo do Egypto, em João Pessoa

O casamento de uma pessoa transgênero dentro do sistema prisional representa um marco inédito e significativo na luta por direitos e inclusão. Este evento é carregado de simbolismo e implicações que vão além das paredes da prisão, refletindo avanços sociais, jurídicos e humanos. Isso aconteceu com Bruna Ângelo, a primeira mulher trans a se casar em uma cerimônia coletiva, no sistema penitenciário da Paraíba.

A união foi retratada na peça teatral ‘A história por trás da história’, prestigiada por um público que lotou o Teatro Ednaldo do Egypto,  em João Pessoa, na noite de quinta-feira (25). O espetáculo é uma realização do Tribunal de Justiça da Paraíba, por meio da Vara de Execução Penal (VEP) de João Pessoa; Governo do Estado, através da Secretaria Estadual de Administração Penitenciária; Projeto MoveMente – Saúde Mental; e Conselho da Comunidade, dentro do Projeto ‘Aventuras em Série’.

Bruna e seu marido, Josimar Ângelo, são pessoas privadas de liberdade e cumprem suas penas na Penitenciária de Segurança Média Desembargador Sílvio Porto, no bairro de Mangabeira, Zona Sul da Capital. Na unidade prisional, Bruna trabalha no escritório da Defensoria Pública e Ângelo na manutenção geral da penitenciária.

A juíza da VEP, Andréa Arcoverde, disse que colocar o espetáculo em cena foi, antes de tudo, um grande desafio. “Tudo foi feito com muito amor, carinho e dedicação. Esta noite é uma prova de que, quando as instituições se unem em favor da ressocialização das pessoas privadas de liberdade, as coisas realmente acontecem. Só tenho a agradecer a todos e a todas envolvidos(as) na produção da peça. Estou muito feliz por tudo que está acontecendo e, claro, parabenizar o casal”, comentou a magistrada, que foi homenageada no final da apresentação.

Quem também assistiu ao espetáculo foi a juíza de Execução Penal da Comarca de Santa Rita e representante do Grupo de Monitoramento GMF-PB, Lilian Cananéa. “Além do ineditismo, essa é uma excelente iniciativa e mostra a sensibilidade da colega Andréa Arcoverde, com todo o apoio da Secretaria responsável. Todos estão de parabéns”, disse.   

O secretário da Administração Penitenciária, João Alves de Albuquerque, destacou que a parceria da VEP de João Pessoa e a Secretaria de Administração Penitenciária tem alcançado resultados em grandes ações. “Nossa maior preocupação é com a ressocialização das pessoas privadas de liberdade. Estamos aqui para prestigiar esse espetáculo, com toda a segurança e estrutura necessária para sua realização”, pontuou. 

O Casal Bruna casou em dezembro do ano passado, quando tinha 31 anos de idade, durante um casamento coletivo, realizado na Penitenciária Silvio Porto. “Casar com um homem que me fizesse feliz era um sonho que tinha desde criança e ele me faz feliz. Eu achava que meu casamento nunca ia acontecer. Hoje, me sinto privilegiada. Nunca imaginei estar passando por isso. A peça faz uma retrospectiva da minha vida”, comentou, que participa do espetáculo, no final do terceiro e último ato.

Bruna não está em uma unidade prisional feminina porque prefere ficar ao lado do seu marido. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ) diz que a pessoa trans tem o direito de escolher em qual presídio quer ficar e o juiz ou juíza da VEP, diante do pedido faz, o encaminhamento. Inclusive, Bruna tem identidade como mulher trans.

Segundo Josimar, o casamento está muito bem. “Estamos muito felizes juntos. Graças a Deus foi realizado esse nosso sonho. Antes do casamento, a gente namorava há quatro anos. Até hoje, nunca sofremos nenhum tipo de violência ou preconceito e temos nossas visitas íntimas, com intervalo de 15 dias”, revelou.

A atriz que interpreta Bruna, Melissa Kelly, disse que se sentiu muito emocionada com o papel. “Bruna é uma grande amiga minha, que conheço há mais de 10 anos, e conheço toda sua trajetória de vida. Pode ter certeza de que eu dei o meu melhor. Ela, para mim, é uma irmã, que está vivendo um grande amor”, definiu.

Direção A diretora e uma das atrizes da peça, a professora Germana Dália, disse que está realizada, mas não apenas por estar falando sobre o casamento de Bruna e Josimar. “Estamos vivenciando um momento único, porque na nossa equipe têm outras mulheres trans. Isso é o que importa para mim, é transformar o ambiente prisional em um lugar de dignidade, respeito e fora o preconceito. O que projeto quer é destruir essas barreiras, quebrar paradigmas e trazer visibilidade às mulheres trans”, destacou.

A peça é dividida em três atos, com 23 atores e atrizes. O primeiro deles fala sobre a história de Bruna e Josimar, e como eles se conheceram. Em seguida o público fica sabendo da realidade do ambiente prisional e a importância do apoio e acolhimento da Direção da Penitenciária Desembargador Sílvio Porto. Por fim, é destacado a forma de como foi possível conciliar a segurança e os trâmites legais de uma cerimônia completa, com flashes, flores, marcha nupcial, bolo e um enfático ‘sim’.

Fotos Carol Borges https://drive.google.com/drive/folders/1JC9isyIY0bFowDSfmNxFrXYTpuVPdEGm?usp=sharing

Por Fernando Patriota

 

Post original através de www.tjpb.jus.br

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