Símbolo de resistência, Teatro Rival completa 90 anos: ‘Feito heroico’ | Rio de Janeiro
Publicado 22/03/2024 04:00
Rio – “É um feito heroico um teatro completar 90 anos no Brasil”. Assim a atriz Leandra Leal define as nove décadas que o Teatro Rival Petrobras, na Cinelândia, completa nesta sexta-feira (22). Administrado por Ângela Leal, mãe de Leandra, a casa resistiu ao Estado Novo e ao golpe de 1964, passando por crises econômicas, além da pandemia, mas nunca fechou as portas. Fundado em 1934 e batizado pelo dramaturgo Oduvaldo Vianna, o mais antigo teatro particular do Rio vai celebrar seu aniversário, nesta sexta-feira (22), homenageando Zeca Pagodinho e Beth Carvalho, ícones do samba que ajudaram a escrever a história da casa.
A partir de 1970, passou para o comando de Américo Leal, avô de Leandra, tendo abrigado espetáculos de teatro de revista, peças de crítica política, além de musicais, shows e humorísticos. O panteão dos grandes nomes que brilharam no palco inclui Grande Otelo, Oscarito, Alda Garrido, Dercy Gonçalves, Rogéria, Jane di Castro, Cauby Peixoto, Alcione, Nana Caymmi e muitos outros, consolidando a casa como local democrático e referência da vanguarda carioca.
No último dia 2 de março, o cantor e compositor João Bosco abriu as comemorações, que vão durar até o fim deste mês, cantando sucessos como “O Bêbado e o Equilibrista” e “Papel Machê”. Antes de abrir as cortinas naquele dia, Ângela expressou sua alegria. “Que casa colorida. Isso é alegria. Um teatro desse tamanho e no meio do Centro da Cidade, fazendo 90 anos, é tão lindo”, disse a atriz.
Ao DIA, a veterana, que divide a gestão com a filha, fala sobre o desafio. “Quando percebi que teria de assumir o Rival, tomei isso como uma missão. Senti que tinha como dever de proteger aquele espaço. Nesses 36 anos que estou lá, tento dar pertencimento, através da cultura, ao povo. A filosofia do Rival é lançar, resgatar e resistir, difundindo a cultura. O Rival é mágico e tem um espírito democrático”, celebra Ângela.
Personagens marcantes
Chefe de serviços externos do espaço, Luís Cláudio de Jesus, 53 anos, começou a trabalhar como auxiliar de serviços gerais em 2002. “Já passei pelo canhão da luz, bilheteria e produção. Nestes 21 anos, o que mais me marcou foi o dia 2 de outubro de 2002, quando pisei pela primeira vez aqui. Era um show da Leila Pinheiro e, até hoje, quando ela vem, eu lembro desse dia”, relembra.
“O Rival é uma resistência e ele passa isso para quem está dentro. A gente é uma coluna dele, para não deixar cair. Tudo que podemos fazer, a gente faz. Esse teatro é uma escola. Pelo tempo que estamos funcionando, acho que ele reflete uma ideia de que o artista e a arte devem ser protegidos”, completa o funcionário.
O ator Carlos Sebastião Prata, mais conhecido como Grande Otelo Filho, passa constantemente pela porta do Rival e, às vezes, entra para respirar um pouco de cultura. “Minhas primeiras lembranças foram as vezes que acompanhava meu pai em peças de teatro. Foi um grande aprendizado cultural para mim. Ele tem uma relevante importância para o Rio”, exalta Carlos, que é filho do comediante Grande Otelo (1915 – 1993).
A festa
Nesta sexta-feira, às 20h, o Rival vai celebrar seu aniversário homenageando Zeca Pagodinho e Beth Carvalho. Os shows serão protagonizados pelo Quarteto de Cordas do Instituto Zeca Pagodinho e por Carlinhos Sete Cordas, além de uma banda composta apenas por mulheres e muitas participações especiais, como Bia Aparecida, Aurea Martins, Luana Carvalho e outros nomes,
Beth Carvalho apresentava-se com frequência por lá Já Zeca foi o artista que inaugurou a nova fase do teatro, na década de 1980, quando a programação passou a contar com shows musicais.
*Reportagem do estagiário Leonardo Marchetti, sob supervisão de Raphael Perucci
Post original através de odia.ig.com.br
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